segunda-feira, 24 de julho de 2017

Resiliência


Sério...houve o Césio-137?
O descaso ceifou vidas
Da princesinha do Cerrado.
O desuso sem responsabilidade
Causou vítimas...mortes!
Sério!? Houve o Césio-137?
Césio tirou da vida...existência.
A menina Leide...Estrelinha Azul!
Ingeriu a luminosidade radiante...transcendeu!
Leide sem nobreza morreu no desdém.
Mazela dos governantes…Labéu dos políticos!
Que levam vidas para o beleléu.
Não há Leis que apaguem o “Brilho da Morte”.
Não há compromisso com os agonizantes
Do Césio...Sério!? Houve o Césio-137?
Irradiação que limitou a ação
Dos que dela se aproximou!
Goiânia chora as vítimas do Césio
Desde de 1987....E Célio nem sábia do Césio!
Lágrimas azuis...vermelhas....negras.
São as marcas das vítimas do Césio-137.
Sério! Houve o Césio-137?!
Eliene Ferreira

domingo, 9 de julho de 2017

Espera-ança!



Fui feto...e cuidado com afeto.
Quando bebê fui...
Chorava por não saber falar.
Fui criança...arteira!
Fui super-herói...fui artista...inventor...cientista.
Quando criança fui...
O futuro era algo distante.
Quando adolescente fui...
Estudei...namorei...a vida era ilimitada.
Quando adulto fui...
O presente me apresentou o amor.
Fui provedor de uma família.
Assim, fui pai....mãe!
Quando velho fui....
Desfigurado...fragilizado...acamado...
Abandonado me tornei.
Quando partir....
Espero ser lembrado.
Eliene Ferreira

domingo, 25 de junho de 2017

Sabores

                                                                                                   imagem internet


Cerrado...Cerradinho...Cerradão
Tem fruta de montão.
O Maurício gosta do Murici.
Sua vovó faz deliciosas geleias.
Em outubro temos a Cagaita
Onde Carlita faz sorvete de palito.
Passávamos por frondosa árvore
E minha mãe disse Araticum...Araticum
Gritei saúde...saúde!
Todos riram…não era atchimmm....atchimmm.
O que era então?
Delicioso fruto do Cerrado.
Que nome estranho...indaguei!
Minha me disse que havia outras...
Mangaba...Mama-cadela....Pera-do-Campo.
Nossa! Tanta fruta do Cerrado.
E eu conhecia somente o Pequi...que tinha aqui.
Chegamos na fazenda de Barão
Que gosta de pé-de-moleque de Baru.
Baru...outra fruta exótica.
Eita! Cerrado maravilhoso.
Buriti...Bacupari-do-Cerado.
E eu me senti Bacuri
Fora da Amazônia
.
Eliene Ferreira

Partida

                                                                                                imagem internet


Ao partirmos...irmos!
Deixamos memórias...saudades.
Gestos...exemplos...experiências.
Que amenizam nossa ausência.
Criando um degradê
De sentimentos...no esquecimento.
Assim partimos pouco a pouco...indo...indo.
Das lembranças dos amados. 
Que nos imortalizam em portas retratos.
Onde breve poeira irá atenuar
Num gesto final.
De encobrir nossa passagem

Por tênue vida.
Eliene Ferreira

Floral

                                                                                               imagem internet

Hoje sinto-me um florido Rododendro.
Ou uma Glicínia....encantadora.
Possuidora de longas inflorescências...desce...desce.
 Como uma Rapunzel do campo.
Com nuances de um Carvalho estadunidense 
Ao entardecer....Crepúsculo da Cerejeira!
Que lembra o alaranjado Flamboyant.
Sinto-me firme...forte como o Baobá.
Uma árvore Sangue-de-dragão....
Que acolhe...afaga...aninha.
Sou assim...Jacarandá florido
Que enlaça...abraça como o Cajueiro.
Num encontro de cores como o colorido
Eucalipto Havaiano....assim sou árvore enraizada.
Acolhida....pela mãe Gaia.
 Eliene Ferreira

domingo, 12 de fevereiro de 2017

                                                 

Emana de mim
Luzes...prisma!
Transcende do ser.
Emana de mim
Plasma...fluido!
Desprende....exala.
Dissipa aroma…Fragrância!
Fênix do destino....Eterniza! 
Eliene Ferreira

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

                         

                                                                   Ondas
E as fortes ondas balançavam o barco como que embalando, fazendo ninar. As ondas lavavam a proa e levava todo mal, toda miséria dos dias nublados em alto mar. Sacudiam os cabelos negros da sobrevivente de guerras. O vento alisava seu rosto como que retirando todo sofrimento alimentado pelo desprezo humano. Desprezo de iguais.
Sua esperança reluzia longe, distante, nas cristas das ondas que vinham e iam. Vinham e iam! A jovem se perdeu neste balançar hipnotizante, como que abraçada por anjos. Se naquele momento morresse, seria feliz. Feliz como nunca foi em terra firme.
Deixou levar-se! Foi conduzida pela oportunidade de viver sem sofrimento, sem dores, sem separação. Sentiu em seu peito já traumatizado por fortes opressões um alivio pacificador.
Seria isto a paz? Seria isto Deus? Seria isto a vida? Ou seria isto a morte?
Sentia que suas perguntas de alguma forma teriam respostas. Seria explicado porque ela, uma garota que viveu algumas primaveras, tivera que enterrar nos dias escuros, nos dias nublados, seus irmãos, deixando seus pequenos corpos juntamente com os de seus pais.
O trovão fez com que se lembrasse das explosões, dos gritos cortantes, que dilacerava sua alma. O clarão dos relâmpagos trazia-lhe a visão de corpos sob a neblina da destruição. Sua cidade natal hoje era somente restos misturados de entulhos de casas, de paredes feridas pelas armas dos inimigos. Inimigos que ela nem sabia que tinha. Em suas paredes, buracos que pareciam flores que não conseguiram desabrochar, assim, como ela.
A brisa cantante do mar traz à garota sonhos enterrados pelo egoísmo humano. A melodia suave, orquestrada pelo maestro universal, descortina a realidade do balançar do barco.
O capitão, outro fugitivo da sua desgraça mortal, alerta para que todos se agarrem o mais forte possível. Pois as ondas, noivas de Posseidon, se agigantavam.
A garota que não tinha futuro e nem identidade, neste momento resolveu entregar-se ao seu destino. Destino este que lhe foi privado. Agora, neste momento, sentia-se viva, sentia que sua vida, que até então não tinha motivos para acontecer, seria silenciada entre abraços molhados, caricias que lhe foram furtadas.
Entregou-se ao mar, entregou-se à vida. Sentiu-se viva. Ah! O sentir! Como poderia o homem que sempre teve todos estes sentimentos alimentados e respeitados, entender sua alegria em ser absorvida pela liberdade eterna do mar?
Um momento único, vivido por ela com toda a intensidade de sentimentos. Sentia-se como uma rosa, daquelas de sua parede perfuradas, a desabrochar, a abrir-se para o sol. Mesmo estando em meio a uma tempestade furiosa, ela sentia a calmaria da sua alma. Estava predestinada a ser embalada pelo mar por toda eternidade. Seu corpo não experimentaria a dor, não seria dilacerado por bombas, não seria rasgado por balas e por fim, não ficaria confinada em terras sagradas onde o sangue banha os corpos dos guerreiros de lutas santas, de guerras históricas onde a soma destas são séculos de destruição e morte.

Entrega-se ao furioso mar, como seu senhor, seu libertador. Tirando suas dores, lavando seus medos. Seu futuro sempre foi a morte. Que sua lápide seja o azul do mar e suas últimas palavras sejam vibradas pela brisa adocicada das manhãs no mar.
Nestes minutos finais ela compreende que ao nascer não podemos escolher como iremos entrar nesta vida, mas podemos fazer do nosso minuto final uma alegoria à vida. Pois a morte é uma passagem, uma forma de abrandarmos os sofrimentos.
Assim, conduzida por este sentimento, ela abre os braços, inspira, enche os pulmões, recebe o bafo da onda e se liberta... Entra para o desconhecido, imortaliza seus dias, seu momento final. Torna-se humana, lamenta saber que a morte nos torna humanos, frente à vida esta condição foi-lhe roubada. Perante a morte somos todos iguais. Somos todos seres humanos!

 Eliene Ferreira