domingo, 12 de fevereiro de 2017

                                                 

Emana de mim
Luzes...prisma!
Transcende do ser.
Emana de mim
Plasma...fluido!
Desprende....exala.
Dissipa aroma…Fragrância!
Fênix do destino....Eterniza! 
Eliene Ferreira

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

                         

                                                                   Ondas
E as fortes ondas balançavam o barco como que embalando, fazendo ninar. As ondas lavavam a proa e levava todo mal, toda miséria dos dias nublados em alto mar. Sacudiam os cabelos negros da sobrevivente de guerras. O vento alisava seu rosto como que retirando todo sofrimento alimentado pelo desprezo humano. Desprezo de iguais.
Sua esperança reluzia longe, distante, nas cristas das ondas que vinham e iam. Vinham e iam! A jovem se perdeu neste balançar hipnotizante, como que abraçada por anjos. Se naquele momento morresse, seria feliz. Feliz como nunca foi em terra firme.
Deixou levar-se! Foi conduzida pela oportunidade de viver sem sofrimento, sem dores, sem separação. Sentiu em seu peito já traumatizado por fortes opressões um alivio pacificador.
Seria isto a paz? Seria isto Deus? Seria isto a vida? Ou seria isto a morte?
Sentia que suas perguntas de alguma forma teriam respostas. Seria explicado porque ela, uma garota que viveu algumas primaveras, tivera que enterrar nos dias escuros, nos dias nublados, seus irmãos, deixando seus pequenos corpos juntamente com os de seus pais.
O trovão fez com que se lembrasse das explosões, dos gritos cortantes, que dilacerava sua alma. O clarão dos relâmpagos trazia-lhe a visão de corpos sob a neblina da destruição. Sua cidade natal hoje era somente restos misturados de entulhos de casas, de paredes feridas pelas armas dos inimigos. Inimigos que ela nem sabia que tinha. Em suas paredes, buracos que pareciam flores que não conseguiram desabrochar, assim, como ela.
A brisa cantante do mar traz à garota sonhos enterrados pelo egoísmo humano. A melodia suave, orquestrada pelo maestro universal, descortina a realidade do balançar do barco.
O capitão, outro fugitivo da sua desgraça mortal, alerta para que todos se agarrem o mais forte possível. Pois as ondas, noivas de Posseidon, se agigantavam.
A garota que não tinha futuro e nem identidade, neste momento resolveu entregar-se ao seu destino. Destino este que lhe foi privado. Agora, neste momento, sentia-se viva, sentia que sua vida, que até então não tinha motivos para acontecer, seria silenciada entre abraços molhados, caricias que lhe foram furtadas.
Entregou-se ao mar, entregou-se à vida. Sentiu-se viva. Ah! O sentir! Como poderia o homem que sempre teve todos estes sentimentos alimentados e respeitados, entender sua alegria em ser absorvida pela liberdade eterna do mar?
Um momento único, vivido por ela com toda a intensidade de sentimentos. Sentia-se como uma rosa, daquelas de sua parede perfuradas, a desabrochar, a abrir-se para o sol. Mesmo estando em meio a uma tempestade furiosa, ela sentia a calmaria da sua alma. Estava predestinada a ser embalada pelo mar por toda eternidade. Seu corpo não experimentaria a dor, não seria dilacerado por bombas, não seria rasgado por balas e por fim, não ficaria confinada em terras sagradas onde o sangue banha os corpos dos guerreiros de lutas santas, de guerras históricas onde a soma destas são séculos de destruição e morte.

Entrega-se ao furioso mar, como seu senhor, seu libertador. Tirando suas dores, lavando seus medos. Seu futuro sempre foi a morte. Que sua lápide seja o azul do mar e suas últimas palavras sejam vibradas pela brisa adocicada das manhãs no mar.
Nestes minutos finais ela compreende que ao nascer não podemos escolher como iremos entrar nesta vida, mas podemos fazer do nosso minuto final uma alegoria à vida. Pois a morte é uma passagem, uma forma de abrandarmos os sofrimentos.
Assim, conduzida por este sentimento, ela abre os braços, inspira, enche os pulmões, recebe o bafo da onda e se liberta... Entra para o desconhecido, imortaliza seus dias, seu momento final. Torna-se humana, lamenta saber que a morte nos torna humanos, frente à vida esta condição foi-lhe roubada. Perante a morte somos todos iguais. Somos todos seres humanos!

 Eliene Ferreira